No placar das semifinais, Alemanha 11 x 3 Espanha. Os dois representantes germânicos na decisão da Liga dos Campeões e a dupla gigante espanhola novamente fora a um passo da esperada final européia Real Madrid x Barcelona. Ela não vai acontecer, pelo menos desta vez, reflexo do momento excelente vivido pelos dois principais times alemães dentro de campo e nas arquibancadas.

Beira o patético observar nos dias anteriores às pelejas decisivas no Santiago Bernabeu e Camp Nou a imprensa e os clubes espanhóis pedindo encarecidamente aos torcedores que incentivem seus times. Primeiro porque apoiar o clube é óbvia função do torcedor, segundo porque não havia como atender. Os frequentadores dos dois estádios mais importantes do país não sabem... torcer.

Reflexo da elitização do futebol que atinge Real e Barça, assim como os times ingleses. Estádios transformados em teatros com platéias substituindo torcedores. Bilhetes caros atraem gente abastada, em geral nada disposta a gritar, vibrar na arquibancada. Sentam nos lugares numerados, acompanham o cotejo, deixam dinheiro nos bares, lanchonetes e lojas oficiais. Só não torcem.

E não torcem porque não sabem como. Essas pessoas não têm esse perfil e se tornaram quase que a totalidade dos que vão aos estádios de tais clubes. Com isso, a torcida virou platéia, fria, distante, capaz de gritar gol, de aplaudir, mas absolutamente estéril quando os jogadores na cancha precisam de um incentivo, de um apoio, de uma força extra. Eles não têm idéia de como dar isso.

Os alemães têm a virtude de preservar esse aspecto. Seus estádios, mesmos os rotulados como "arena", como o de Munique, têm torcidas de verdade. Há ingressos a preços mais acessíveis e gente que vai para o jogo com bandeiras para a festa, disposta a gritar, cantar, pular, vibrar. Eles também "jogam", participam dando o apoio que faz do mando de campo algo pesado.



Ingleses vêm discutindo isso há algum tempo. Torcidas de países como Grécia, Polônia, Turquia e até Chipre dominam os estádios quando visitam a Inglaterra. Um grupo de 3 mil pessoas basta para superar 45 mil, 75 mil no grito, seja em Stamfortd Bridge ou em Old Trafford. Foi assim no Camp Nou. Os pouco mais de 5 mil fãs do Bayern gritaram muito mais do que os 90 mil barcelonistas.


Não estamos falando de cartacterísticas deste ou daquele povo. Torcidas já foram vibrantes na Inglaterra e na Espanha. Vi nesta semana o VT de Real Madrid 4 x 0 Borussia Monchengladbach, pela Copa da Uefa de 1986. A televisão espanhola passou os últimos dias lembrando grandes viradas ("remontadas", como dizem) de Real e Barça, na esperança de que acontecessem mais uma vez.

E naquela reação merengue, era incrível a diferença de comportamento do público no Bernabeu. Sim, o Real Madrid tinha uma torcida vibrante nos anos 1980. Bandeiras, gritos, músicas... A arquibancada ajudava. Não é mais assim e no Camp Nou a sensação é de frieza maior ainda. O povo catalão, que se orgulha quando entra em pauta a idéia da independência, não reage pelo Barça.

É evidente que o grito do torcedor não bastaria para levar à "remontada". O Bayern foi melhor, hoje é melhor. Mas o grito poderia ajudar, como ajudou o campeão alemão na peleja de Munique. Cartolas pensam em grana, vendem os ingressos pelos preços mais altos possíveis. Claro, há a demanda e é um negócio, a boa e velha leia da oferta e da procura é o que rege isso tudo.

Mas o futebol não é apenas um negócio. É antes de tudo uma paixão. E sem o grito de gente fanática e disposta a tudo ou quase tudo pelo seu time, fica mais difícil correr atrás daquela bola aparentemente perdida ou disputar a dividia com o adversário. Esse "combustível" extra estava disponível para apenas um dos times nesta semifinal, o Bayern com os seus fãs. 

Por que os alemães querem faturar, mas ainda não abandonaram esse princípio básico do nosso esporte. E torcedores de verdade, não meros espectadores, são fundamentais para isso. Em nome de todos que um dia já pegaram sol, chuva, vibraram, sofreram, choraram e riram numa arquibancada, numa geral, foi um triunfo do futebol. Sim, torcida também "joga"!

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